Relato: VBA2C Pélvico - Parto normal após duas cesáreas - Bebê sentado


A enfermeira Priscila Israel teve seus dois primeiros filhos por cesárea. Durante a faculdade, ela presenciou muitos partos normais e todos com muitas intervenções e casos de violências obstétricas de todos os tipos, o que a fez optar pela cesárea nas primeiras gestações. "Gabriel teve diagnóstico de pneumonia congênita e sepse ao nascer e ficou 20 dias no CTI neonatal. Já o Miguel nasceu bem e, após algumas horas, foi para o quarto. Mas, depois de algum tempo, comecei a questionar o nascimento dos meus filhos, via as fotos e achava tudo muito frio, ficava muito triste com isso", lembra.
Foi então que ela começou a ler sobre parto humanizado. Assistiu também ao documentário "O Renascimento do Parto" e diz ter se tornado uma ativista. "Quando alguma amiga engravidava, eu sempre falava de parto normal e tentava ajudar na escolha de alguma forma", conta.
Até que chegou a vez dela. Depois de usar DIU por cinco anos, ela tirou quando venceu e resolveu esperar a menstruação normalizar para se decidir se colocava novamente o DIU ou mudava de método. Três meses depois, descobriu a gravidez. "Eu e meu marido ficamos surpresos e assustados no começo, mas sempre desejamos e falamos que esse filho era muito bem-vindo. Eu comecei a estudar muito sobre parto normal após cesárea e vi que minha luta não seria fácil. Meu marido estava com uma viagem marcada para a data provável do nascimento do bebê e possivelmente não estaria comigo no dia, o que me deixou bem insegura no começo, mas depois relaxei quanto a isso e continuei minha busca", conta.

Depois de ter dois filhos por cesárea, Priscila optou pelo parto humanizado na terceira gestação


Acompanhamento pré-parto
Com 17 semanas de gestação Priscila procurou a doula Rebeca Charchar. "Ela foi muito acolhedora e me deu uma injeção de ânimo. Comecei a participar de um grupo virtual sobre o tema e de encontros presenciais no Ishtar (grupo de apoio à gestação e ao parto ativo no Brasil), além de ler relatos e assistir vídeos. Como moro no interior de Minas Gerais, onde não teria assistência, procurei um médico em Belo Horizonte, que foi muito otimista em relação ao meu caso, falou dos riscos do parto e da terceira cesárea. Eu e meu marido sentimos confiança nele e também no hospital onde decidimos que nossa filha Alice nasceria, o Sofia Feldman, que é público e atende 100% pelo SUS", explica.
Mas um ultrassom mostrou que o bebê estava em posição pélvica e, se não virasse, não teria chances de fazer parto normal. Priscila começou então a fazer hidroginástica, pilates e exercícios em casa que pudessem ajudar na virada, o que não aconteceu. Na consulta seguinte, o medico falou da possibilidade de fazer o parto pélvico ou, ainda, de tentar a versão cefálica externa (VCE), uma manobra não invasiva que é feita para tentar virar o bebê para a posição cefálica. Deu tudo certo, o bebê virou, mas logo retornou à posição de antes. "Tentamos pela segunda vez a VCE e ela não virou. Eu desmoronei, tive medo de perder meu tão sonhado parto. Ter que passar pela terceira cesárea era desesperador. Intensifiquei minha maratona de exercícios , acupuntura, auriculoterapia e cambalhotas na água, mas foi tudo em vão. Então estudei muito sobre parto pélvico e fui me fortalecendo, no final já me sentia preparada e segura para enfrentar esse medo", afirma.

Parto pélvico humanizado

Além do acompanhamento da doula, Priscila contou também com o apoio da enfermeira obstétrica Fabiana Rocha, que a atendeu sempre que precisava, principalmente quando começou a sentir as primeiras contrações, orientando sobre cada fase, até que o dia do parto chegou. "Meu marido estava viajando. Liguei para minha comadre que ia ficar com meus filhos mais velhos e para minha amiga Andreza que ia me acompanhar para tirar as fotos. Minha mãe já estava na minha casa e foi comigo também, além da Fabiana e da Rebeca", conta.
Elas chegaram à maternidade ainda de manhã. Foi quando a enfermeira viu que a bolsa tinha rompido e havia presença de mecônio, que é o primeiro cocô que o bebê faz. O médico avaliou e falou que, nessas condições, a indicação seria cesárea. "Comecei a chorar desesperada! Entrei para o pré-parto com a doula e minha mãe, fiz alguns exercícios na bola, dei uma volta num espaço que tem no hospital e, quando voltei, já estava com quatro centímetros de dilatação e batimentos cardíacos regulares, o que foi tranquilizador. No meio da tarde as dores ficaram mais fortes, pedi para o médico fazer uma leve analgesia e ele concordou, mas acabou não dando tempo. Quando ele fez o toque, viu que os pezinhos dela já estavam para fora do colo e que eu já estava com dilatação completa. Fomos então para a sala de parto, fui direto para o chuveiro, sentada numa banqueta, com contrações muito fortes, até que os pezinhos saíram. Fiquei acariciando, ainda sentindo muitas dores fortes, até que saíram a perninha e a coxa. O médico então pediu que eu deitasse, para que ele fizesse algumas manobras para soltar os bracinhos dela, o que eu não queria, pois estava bem na banqueta. E não gostei, doeu muito mais e ela poderia ter nascido mesmo sem isso. Mas o importante é que Alice nasceu às 16h41, muito bem, linda, veio para meus braços quentinha ainda, ficamos nos olhando, nos conhecendo, por mais ou menos uma hora, o que foi muito emocionante. Só depois desse tempo autorizei que ela fosse pesada e medida, mas não autorizei alguns procedimentos, o que foi respeitado sem nenhum questionamento. Fiquei muito feliz por ter conseguido ter minha filha do jeito que sonhei", relata.

Vantagens do parto humanizado

Segundo o ginecologista e obstetra Alberto Jorge Guimarães, o objetivo principal desse tipo de parto é atender às necessidades da mulher, aguardando que o trabalho de parto aconteça de forma espontânea, na data do bebê, e, durante o nascimento, evitar que a mulher fique deitada o tempo todo, permitindo que ela ande, agache, faça uso de água, massagem e outras estratégias que diminuam o desconforto. Ele diz ainda que as vantagens do parto humanizado são muitas. "Desde o nascimento na data do bebê, com menos riscos de prematuridade e de patologias respiratórias na primeira infância, até a recuperação da mãe, a sensação de poder que implica parir seu próprio filho, e as facilidades no cuidar, amamentar, etc", afirma.
Priscila destaca também a importância da gestante se empoderar, estudar, estar ciente de tudo o que está acontecendo com ela e não deixar a decisão na mão de outras pessoas. "As mães, em busca do melhor para os filhos, acabam acatando o que alguns médicos dizem sem questionarem, e a cesárea muitas vezes é indicada só porque é mais cômodo para os médicos, já que tem hora marcada e não precisa ficar esperando a hora do bebê. Mas é meu corpo, sou eu quem decido", finaliza.


Priscila e Alice aos seis meses

Fonte: http://www.vix.com/pt/bdm/bebe/mae-relata-luta-emocionante-para-ter-filha-por-parto-humanizado-apos-duas-cesareas

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