#TBT - VBAC - Parto normal após cesariana
Divinópolis, 19/09/2019.
Hoje eu estava (re) contando para Alice, minha filha de 13 anos, sobre sua chegada ao mundo.
Sobre como passamos por 4 médicos na cidade em que moramos e não tivemos informações baseadas em evidências para decidir ter ou não ou parto normal 2 anos após uma cesárea. Esta decisão deve ser tomada após receber informações, após considerados os riscos, benefícios e o desejo da família.
Contei a ela que os médicos tinham falas interessantes como "não é possível induzir parto normal quando a mulher tem cesárea anterior", "o trabalho de parto tem que ser rápido", "o bebê deve nascer antes de 40 semanas", "o risco de ruptura é muito grande", "não pode ter ruptura prematura de membranas, sem trabalho de parto", etc, mas ninguém apresentava benefícios ou comprovava suas falas (a opinião do profissional tem grau de recomendação D e nível de evidência 5).
Para minha tomada de decisão de ter um parto normal após cesárea eu acessei os bancos de dados internacionais e busquei apoio em grupos específicos para isso, como as listas e grupos de mulheres (presenciais e virtuais), as doulas (que traduzem o que as evidências dizem), os manuais da OMS e do Ministério da Saúde, além dos médicos e enfermeiros que já orientavam seu trabalho pela MBE naquela época, além do ICAN, grupo internacional de informações sobre o assunto.
Diferentemente do que os médicos me diziam, os estudos mostravam que é possível aguardar até 41 semanas ou um pouco mais, monitorando o bem estar da mãe e do bebê. Que é possível realizar a indução e condução do trabalho de parto com ocitocina ou mecanicamente com descolamento de membranas e método de Krause, sendo este último com baixo risco de infecção e pouco incômodo para a mulher. Somente o comprimido de prostaglandina sintética não é recomendado (risco de taquissistolia, hemorragia, ruptura).
A literatura recente recomenda que nas primeiras 24 horas de bolsa rota seja realizado o monitoramento infeccioso, sem toque e sem indução.
O tempo de trabalho de parto natural é impreciso, cabendo aos prestadores de serviço o monitoramento do bem estar físico e emocional de mãe e bebê.
O estudo de Maria do Carmo Leal, com quase 24 mil mulheres, mostrou que apenas 15% das mulheres que tiveram uma primeira cesárea tiveram apoio (técnico, físico e emocional) para um parto normal na gestação seguinte, reforçando a importância de prevenir a primeira cesárea e de apoiar a mulher no parto normal.
Se você está grávida pela primeira vez, busque cuidadores que irão te apoiar a ter um parto normal!
Se está em segunda ou terceira gestação com cesárea anterior: cerque-se de equipe multidisciplinar e de um serviço cujo protocolo privilegie o parto normal: condutas adequadas, indução em momento oportuno, com possibilidade de uso do método de Krause (vou postar sobre isso).
Foi assim, estudando, me cercando de apoio, bons protocolos e bons cuidadores, que conseguimos receber Alice com 41 semanas e 3 dias pela DUM (fizemos descolamento de membranas com 41 semanas), em um parto na água (método de alívio da dor e relaxamento materno), com 18 horas de bolsa rota (com monitoramento adequado), sem necessidade de uso de antibiótico, com uso de ocitocina para condução após 6 cm para correção de dinâmica (em duas horas de condução ela nasceu), com apoio de doula (apoio físico e emocional), enfermeiro obstetra (apoio técnico e humanizado) e médico de sobreaviso (que não precisamos!).
Ela nasceu com Apgar 9/10, veio imediatamente para meu colo, mamou, não houve separação.
Desejo boas escolhas e boa experiências a todas!
Algumas dicas de leitura:
Nascer no Brasil: Inquérito nacional sobre parto e nascimento. Sumário Executivo Temático da Pesquisa, 2014:
Intervenções para ajudar gestantes com cesariana anterior a decidir sobre seu parto: https://www.cochranelibrary.com/.../14651858.../full/pt...
Indicações de cesárea baseadas em evidências:
Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal - Relatório de recomendação - Janeiro/2016 - Ministério da Saúde: http://conitec.gov.br/.../Relatorio_Diretriz-PartoNormal...
Fatores de risco para ruptura uterina:
AL-ZIRQI, Iqbal et al. Risk factors for complete uterine rupture. American journal of obstetrics and gynecology, v. 216, n. 2, p. 165. e1-165. e8, 2017. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/.../abs/pii/S0002937816309127
Ressignificando-se como mulher na experiência do parto: experiência de participantes de movimentos sociais pela humanização do parto: http://www.teses.usp.br/.../tde-05112014-103526/pt-br.php
LIVROS:
PARTO NATURAL - MESMO APOS UMA CESÁREA
Autora: Hélène Vadeboncoeur
EU NAO QUERO OUTRA CESÁREA
Autora: Luciana Carvalho Fonseca
PARTO NORMAL OU CESÁREA?
Autoras: Simone Diniz e Ana Cristina Duarte
PS: A cesárea foi em 2003 devido a parada de progressão (bebê defletido em posição desfavorável - OPE)
Nosso parto foi em 2006, no SUS (Hospital Sofia Feldman)
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